Workshop: Desenho, em Questão.






CONCEPÇÃO

A proposta de unidade didática que apresentei em conjunto com a Teresa Verdier e com a Elsa Pereira tem como ponto de partida o Desenho, área comum de intervenção pedagógica para a realização da prática profissional supervisionada.

Existem diversos modos de desenhar e de pensar o desenho. Da consciência dessa diversidade, visível ao longo da história da arte e de indivíduo para indivíduo, e da experiência de que o desenho é muitas vezes o laboratório através do qual novas ideias, técnicas e processos artísticos são explorados, surge a vontade de compreender e sistematizar essa diversidade, de perceber as suas implicações e possibilidades. Consequentemente,  surgiu a ideia de conceber uma sequência de exercícios de caráter exploratório que possibilitasse por um lado a construção e partilha dessas consciências e, por outro, uma aventura para além do que é convencionalmente entendido por desenho, explorando a elasticidade do(s) conceito(s) e práticas do desenho e a sua relação com outras áreas artísticas, como a pintura, a escultura, a fotografia, a instalação ou a performance.

Temos como referências nesta exploração das diversas possibilidades do desenho alguns dos artistas e teóricos que durante o século passado e o presente protagonizaram as transformações nos modos de fazer e entender a arte em geral e o desenho em particular, contribuindo para o seu perpétuo movimento de transgressão de si própria, esse sair dos seus limites para mais se aproximar do que é. Referências essas que nos informam sobre as  diferentes abordagens do desenho, sobre a forma como os diversos aspetos e elementos envolvidos na prática do desenho são explorados. 

Algumas referências.

Ana Temudo

David Hockney

Tony Orrico

 Charley Peters

 Klaus Rinke

 Walter di Maria

Richard Long

Carl Andre


 
       
Helena Almeida

Pressupostos e propósitos.
           
O desenho, enquanto disciplina, tem vindo a afirmar a sua autonomia e valor próprio, não subserviente em relação a outras formas de realização artística, mantendo, todavia, uma relação indestrinçável com estas. Como evidencia Gary Garrels, o desenho permite estabelecer relações entre a imaginação e a observação, entre percepção e materialidade, entre a mente e a mão. O seu caráter provisório e exploratório, a sua relativa mobilidade e relativo escasso custo, permitem que o desenho seja o perfeito laboratório para a re-invenção de possibilidades para a arte (Garrels, 2005, p.14).  Como afirma John Berger para o artista o desenho é descoberta (cit. Garner, 2008, p.25), funciona como um catalisador de mudança, como um meio ou processo exploratório, como forma de pensamento e resolução de problemas, fornecendo a cada instante desafios e caminhos de solução (Duff, 2005, pp.2-3).
           
Em Desenho, em questão, pretendemos colocar os participantes numa posição de descoberta e experimentação face ao desenho, através de uma sequência de exercíos que procuram propiciar a exploração de aspectos específicos do desenho, como o suporte, os elementos gráficos ou a ação do sujeito, e tornar sensíveis as transformações  dos seus papeis e funções em diferentes abordagens e práticas de desenho: desde o desenho de observação, ao desenho involuntário ou automático, passando pelo desenho como expressão e pelo desenho como acção. Pretende-se, através da experiência, diálogo e reflexão, propiciar aos participantes a tomada de consciência de diferentes concepções de desenho e dessa forma alargar e aprofundar a compreensão do mesmo, sem que nenhuma das concepções abordadas prevaleça sobre outra. Interessa compreender antes as implicações, limitações e possibilidades das diferentes abordagens.

Descrição.

A unidade didática, Desenho, em questão, divide-se em três sessões de duas horas cada uma. É composta por uma sequência de exercíos cujo objectivo geral é proporcionar aos participantes a experiência de diferentes situações ou contextos de desenho de modo a suscitar a compreensão da especificidade desses mesmos contextos. Entre os exercícios e sessões serão proporcionados momentos de diálogo e reflexão sobre os exercíos e os respectivos trabalhos realizados pelos participantes.


Enunciados.

SESSÃO I

Do desenho de observação ao desenho autorreferencial.

A presente sequência de exercícios procura, de uma forma gradual, fazer a transição de um tipo de desenho baseado numa relação direta com uma realidade observada, onde o propósito do desenho a semelhança com essa mesma realidade, para um desenho cujas premissas e propósitos não são exteriores ao ato de desenhar em si, ou seja, para um tipo de desenho autorrefencial. Pretende-se com esta transição gerar a compreensão do modo como os elementos e natureza do desenho variam no que diz respeito à sua maior ou menor presença e às suas funções ou papéis, relativamente ao tipo de desenho, referencial ou autorreferencial; ao tipo de representação, figuração ou abstração; à função da folha, suporte ou elemento pictórico; à função dos elementos gráficos, descritiva ou autorreferencial. Como é perceptível no gráfico, a transição é gradual, podendo haver simultaneidade, embora um aspeto acabe por estar mais presente que outro.

2
3
4
5
Transição do exercício 2 ao exercício 5, sessão I


Desenho a partir de um referente observado
Desenho autoreferencial
Figuração
Abstração
Folha como suporte
Folha como elemento pictórico
Elementos gráficos descritivos
Elementos gráficos autoreferenciais


EXERCÍCIOS

1
Desenho Livre.
Exercício de expressão ou intervenção livre no qual cada participante poderá desenhar o que entender, da forma como entender, utilizando, entre os materiais disponibilizados, os que desejar. A única condição è o tempo de realização do exercício. 
Duração: 15 m
Materiais: Folhas A3, Grafites, Carvão, Marcadores, Lápis de Cera, Lápis de Cor, Tinta da
China, Guache, Pincéis, Trinchas, Tesoura, Cola, Fios/ Linhas, Arame, Papéis, Tecidos.


2
Desenho de observação.
Desenha tendo como referente uma garrafa com água. Procura que o desenhar seja uma ferramenta de observação e análise do referente, que seja a percepção a dirigir a mão. Os elementos gráficos têm aqui uma função descritiva, pretendem informar sobre o objecto observado. O objectivo primeiro do desenho é estabelecer uma relação de semelhança com o referente, para a qual todas as linhas contribuam.
Duração: 20 m
Materiais: Folhas A3, Grafites, Carvão, Marcadores, Tinta da China, Guache, Pincéis,
Trinchas.



3
Desenho cego.
Desenha a partir do mesmo referente do exercício anterior mas sem olhar para o papel, ou seja, sem olhar para aquilo que está a ser desenhado. Procura concentrar-te na relação entre o que o que observas e o gesto da mão ao desenhar. Valoriza a ação e não o resultado e a sua semelhança com o referente.
Duração: 10 m
Materiais: Folhas A3, Marcadores, Tinta da China, Guache, Pincéis, Trinchas.



4
A folha como espaço pictórico.
Neste exercício não existe um referente exterior a ti e ao ato de desenhares.
Procura apropriar-te da bidimensionalidade da folha. Considera-a como espaço de descoberta e exploração de eventos gráficos, como espaço de invenção. Pretende-se que a representação seja abstrata, que torne visível o que não se pode ver: estados de espirito, ideias, processos e ações.
Duração: 15 m
Materiais: Folhas A3, Marcadores, Tinta da China, Guache, Pincéis, Trinchas.




5
A folha como elemento pictórico.
Desenha tendo como único material a folha de papel.
Duração: 15 m
Materiais: Folhas A3.




Reflexão e diálogo em grupo:
Tendo em conta os exercícios realizados e a tua experiência relativamente aos mesmos, procura reflectir sobre os tipos de desenho e de representação que abordaste, as funções e valores dos elementos gráficos (linha, mancha, superfície) e suas transformações ao longo dos exercícios. Como consideras a tua acção ou papel nos diferentes exercícios? Que concepções de desenho consideras estarem presentes na sequência de exercícios? Surgiu alguma forma de fazer e entender o desenho que não consideravas antes?
Duração: 20 m


Reflexão, à distância:
Esta primeira sessão decorreu de acordo com o que desejávamos, na medida em que conseguimos pôr em prática, de forma dinâmica, o que delineámos, conseguindo através da reflexão na ação, trabalhar de forma clara para os participantes as matérias propostas.
Algum nervosismo inicial e a necessidade não esperada de definir pormenores, acerca do que era revelado por parte do grupo aos participantes, fizeram-nos depois estruturar de forma mais precisa o que aconteceria, nesse aspeto, nas sessões seguintes.
Deixámos as reflexões em conjunto para o final da sessão, perdendo-se assim alguns dos momentos em que poderíamos ter intervido de forma mais construtiva, no entanto considero que o produto desta sessão foi muito positivo.




SESSÃO II
Do signo à marca ou vestígio.

Conteúdos programáticos:

A par da dicotomia entre desenho a partir de um referente e desenho autorreferencial, abordada na sessão anterior, pretende-se abordar as noções de desenho como ato transitivo e como ato intransitivo. A primeira envolve uma intencionalidade do sujeito, este é o impulsionador do desenho e o resultado da sua ação o objetivo da mesma, por exemplo: representar a ideia de garrafa de água. Na segunda, a ação pretende-se involuntária, o sujeito passa a ser o meio através do qual o desenho se manifesta. O desenho passa a ser vestígio, o resultado mostra-nos a atividade em si, a ação de desenhar e também o sujeito na ação de desenhar. Esta diferenciação sobre a ação e papel do sujeito coincide com a distinção entre signo e vestígio. O signo (referencial) está mais relacionado com aspetos pessoais, é intencionalmente feito pelo sujeito, enquanto que o vestígio (autorreferencial) tende a excluir o pessoal, na medida em que não é controlado pelo sujeito.

1
2
3
4
 

Transição do exercício 1 ao exercício 4, sessão II



Signo
Vestígio
Desenho referencial
Desenho autorreferencial
Representação
Ação
Desenho como ação intencional
Desenho como ação involuntária



EXERCÍCIOS

1
“Isto não é uma garrafa.”
Neste exercício é pedido aos participantes que representem a sua ideia de garrafa de água (referente usado na sessão anterior). Pretende-se que os participantes se confrontem com a diferença entre desenho de observação e o desenho de uma ideia, tanto no que diz respeito ao processo como ao resultado, sendo no final comparados os trabalhos realizados nos dois exercícios.
Duração: 15 m
Materiais: Folhas A3, Grafites, Marcadores.



2
Desenhar o invisível: o som.
Procura interpretar o movimento sugerido pelo som da água, através de um desenho mais gestual. Explorar um tipo de representação mais abstrata, expressiva e gestual, no qual a linha se liberta da sua função descritiva, traduzindo antes o ato do desenho em si, os gestos e movimentos que geram formas inesperadas. Deixa que a tua mão seja conduzida pelo som e pela tensão gerada pelo contato do material riscador com com a superfície do papel.
Duração: 15 minutos.
Materiais: Papel de cenário, Marcadores, Tinta da China, Guache, Pincéis, Trinchas.



3
Quem está a desenhar?
Para que resulte o conteúdo deste exercício não pode ser revelado.
Duração: 30 minutos.
Materiais: Papel de cenário, Tinta da China, Guache, Pincéis, Trinchas.




[Neste exercício pretende-se que o desenho aconteça de uma ação que não é controlada ou decidida por um autor. Tenta-se levar o mais longe possível a ausência de intencionalidade na configuração do desenho, que é feito a dois sem que nenhum dos sujeitos atuantes decidam por completo qual será o resultado.

O exercício foi realizado sobre uma folha de papel cenário colocada sobre o chão. Os participantes foram divididos em dois grupos. Aos elementos de um dos grupos foi pedido que, de olhos vendados, se movimentassem sobre a folha, enquanto os elementos do outro grupo, e sem que os outros soubessem, procuravam registar esses movimentos.

No final do exercício a reflexão conjunta fez-se em torno da questão presente no título do exercício, sobre a autoria do desenho. Visto que nenhum dos participantes teve um total controlo sobre o que foi desenhado, pode-se afirmar que nenhum foi realmente o seu autor.

O desenho que resulta do registo da ação, fazendo coincidir processo e resultado, não é intencionalmente feito nem controlado por ninguém, a presença, expressão e autoridade do sujeito é, assim, quase excluída. Quase, pois cada participante movimentou-se sobre a folha de um modo particular, e cada participante registou o movimento, também, de um modo particular.]

4
Travessia
Ocupa uma zona na extermidade da folha que cobre grande parte do chão. Procura chegar à extremidade oposta da folha, mas atenção! Só te podes movimentar desenhando sobre a folha. Procura fazê-lo de uma forma inventiva, o menos obvia possível.
Duração: 30 m
Materiais: Papel de cenário, Grafites, Marcadores, Tinta da China, Guache, Pincéis, Trinchas, objectos, fita adesiva.


Reflexão:
Que diferenças identificas, de exercício para exercício, na forma como o desenho é criado, no resultado e objetivo do desenho e teu papel enquanto sujeito?



Reflexão, à distância:
A segunda sessão do workshop, a meu ver, foi a mais bem sucedida devido a diversos fatores.
Os exercícios estavam estruturados de forma a que, realmente, fosse através da ação que se apreendessem e entendessem determinados conceitos e se refletisse de forma propositade e decorrente da(s) prática(s).
Os desacertos da primeira sessão foram corrigidos após uma reflexão do grupo acerca do que tinha já sido realizado e tudo aconteceu de forma fluente e agradável, sendo os exercícios recebidos com entusiasmo pelos participantes.
O tipo de experiências que provocámos foi também bastante estimulante e penso que os nossos objetivos foram alcançados de forma feliz.



SESSÃO III
Do desenho sem papel à imagem (ou de volta à imagem).


Nesta última sessão partimos do desenho sem suporte, voltando, depois, ao suporte bidimensional através do registo fotográfico, para no final abordarmos uma concepção de desenho como meio de gerar, definir, organizar e comunicar ideias, conhecimentos: o diagrama


Conteúdos programáticos:

Pretende-se com a presente sequência de exercícios que os participantes explorem a linguagem do desenho, intervindo diretamente no espaço tridimensional que os rodeia, o qual habitam, no qual se movimentam, que se tornem eles mesmos elementos pictóricos, manipuláveis veículos de sentidos, que a imagem fotográfica pode fixar e novamente manipular. A exploração prossegue pelo espaço, o espaço interno e infinito do pensamento, no qual o desenho surge como forma de estabelecer relações conceptuais, de organizar ideias, de gerar conhecimento sobre a experiência dos próprios participantes ao longo da sessão e das concepções de desenho que abordaram.


                     1
                                                     2
                                              3




 Transição do exercício 1 ao exercício 3, sessão III






Espaço tridimensional como espaço pictórico
Imagem como espaço pictórico
Desenho como organização de formas
Desenho como organização de conceitos
Desenho autorreferencial
Desenho referencial




EXERCÍCIOS

1
Desenho livre sem papel | A fotografia como registo documental | A fotografia como elemento construtivo de desenho.
Desenha sem papel, apropriando-te livremente do espaço da sala, através dos vários materiais disponibilizados. Regista fotograficamente as tuas intervenções, utilizando a fotografia como meio de documentação. Cria uma imagem, através da fotografia, a partir da intervenção realizada, utilizando agora a fotografia como meio de construção da imagem através do enquadramento.
Duração: 40 minutos.
Materiais: Marcadores, Guache, Pincéis, Trinchas, Tesoura, Cola, Fios/ Linhas, Arame, Papéis, Tecidos, Fitas adesivas, Objetos, Máquina fotográfica, Computador.


   



2
O corpo como elemento pictórico.
Dando continuidade à apropriação do espaço envolvente iniciada no exercício anterior, utiliza o corpo como elemento pictórico em articulação com o registo fotográfico, podes recorrer também a outros materiais disponibilizados. O exercício poderá ser realizado individualmente ou em grupo.
Duração: 20 minutos.
Materiais: Marcadores, Guache, Pincéis, Trinchas, Tesoura, Cola, Fios/ Linhas, Arame, Papéis, Tecidos, Fitas adesivas, Objetos, Máquina fotográfica, Computador.



      

3
Diagrama de Desenho, em Questão.
Exercício de questionamento e sistematização das experiências e noções adquiridas ao longo das três sessões. O desenho surge aqui como ferramenta geradora e organizadora do pensamento e como meio de partilha desse pensamento. Realiza um diagrama ,utilizando os materiais que achares adequados, sobre a tua experiência ao longo das sessões, reflectindo sobre os conceitos de desenhos abordados.
Duração: 30 minutos.
Materiais: Grafites, Carvão, Marcadores, Lápis de Cera, Lápis de Cor, Tinta da China, Guache, Pincéis, Trinchas, Tesoura, Cola, Fios/ Linhas, Arame, Papéis, Tecidos, Fitas adesivas, Objetos.





Reflexão:
Que diferenças identificas, de exercício para exercício, na forma como o desenho é criado, no resultado e objetivo do desenho e teu papel enquanto sujeito?


Reflexão, à distância:
A terceira e última sessão foi realizada no mesmo dia, na sequência da segunda sessão, devido a condicionantes que nos ultrapassaram. Penso que este fator prejudicou um pouco o desenvolver do workshop, uma vez que o cansaço passou a estar presente, a determinada altura. Ainda assim, continuou a ser visível o entusiasmo dos participantes, que responderam de forma muito positiva ao proposto e acompanharam todas as reflexões que decorriam de cada exercício, incorporando cada vez mais conceitos e formas de ver e de fazer o desenho.
No último exercício, e através dos questionários que foram ainda preenchidos pelos presentes, foi visível como toda a experiência foi produtiva e significativa para todos os intervenientes, que aprenderam, apreenderam e passaram a ser sensíveis às mais variadas abordagens ao desenho.




Avaliação. 
REFLEXÃO | PROPSTA AOS PARTICIPANTES 


Coloque o número que corresponde à sua situação, de acordo com a tabela de referencia de 1 a 5.
1 - Nunca      2 - Raramente    |  3 - Às vezes    |  4 - Frequentemente    |   5 - Quase Sempre

·         Acha que que esta unidade didática conseguiu promover a reflexão sobre o Desenho?___

·         Surgiu alguma forma de fazer e entender o Desenho que não considerava antes?___

·         Pareceu-lhe que a sequência dos exercícios possibilitaram uma tomada de consciência do modo como os elementos e a natureza do Desenho podem aprofundar a compreensão dos mesmo?___

·         Considerou a estratégia utilizada, motivadora e promotora da aprendizagem?___

·         Parece-lhe que a experiência que teve por intermédio das situações propostas lhe possibilitou a construção de vários conceitos de Desenho?___


Que comentário entende pertinente fazer, relativamente às diferentes situações ou contextos de Desenho ...





SESSÃO I

DO DESENHO DE OBSERVAÇÃO AO DESENHO AUTORREFERENCIAL

No que respeita o tipo de representação referencial, recorrendo a elementos gráficos descritivos, ao entendimento da folha enquanto suporte, relação com a abstração, passagem da folha a elemento pictórico ou até mesmo autorreferencial, descreva sucintamente a sua experiência...



SESSÃO I I

DO SIGNO À MARCA OU VESTÍGIO

Quando o sujeito é o impulsionador de intencionalidade do Desenho o resultado da sua ação coloca-nos perante a ideia de signo. Quando o sujeito passa a ser o meio duma ação involuntária, por intermédio do qual se manifesta o Desenho, este, passa a vestígio.
Que diferenças identifica de exercício para exercício, e qual o seu papel enquanto sujeito...



SESSÃO I I I

DESENHO LIVRE SEM PAPEL | A FOTOGRAFIA COMO REGISTO DOCUMENTAL | A FOTOGRAFIA COMO ELEMENTO CONSTRUTIVO DO DESENHO

Partindo do Desenho sem suporte numa exploração pelo espaço, regressa-se a um suporte bidimensional através do registo fotográfico. O Desenho enquanto organizador de pensamento, comunicação e partilha desse pensamento. Em que consistiu a sua experiência no resultado do desenho ao longo das sessões...






REFLEXÃO | GRUPO

O pensamento crítico e reflexivo implica uma avaliação permanente de crenças e princípios a partir de um conjunto de dados e da interpretação desses dados (Oliveira & Serrazinha, 1999, p.3).

De forma a recolhermos dados que não tivessem como fonte apenas as nossas impressões subjetivas sobre a realização da unidade didática Desenho, em questão, foi concebido um instrumento de diagnóstico que nos permitisse avaliar, por um lado, nos participantes as aprendizagens desejadas e, por outro, o sucesso da unidade didática em relação aos objetivos a que se propunha (ver acima). Considerámos a avaliação realizada por oito dos dez participantes, sendo que, de entre os oito, dois participaram nas três sessões e cinco nas duas últimas.

Na primeira parte da ficha de avaliação, onde são avaliados pelos participantes aspetos gerais da unidade didática que se prendem com os seus principais objetivos, segundo uma escala entre 1 e 5 (que corresponde respetivamente a nunca e quase sempre), foi concebido um quadro, exposto em baixo, que nos permite observar e confrontar a avaliação realizada pelos referidos participantes, identificados no quadro por letras maiúsculas. As médias apuradas por objetivos (m/o) permitem-nos concluir que a unidade Desenho, em questão promoveu quase sempre a reflexão sobre o desenho; proporcionou frequentemente a exploração de práticas e concepções de desenho desconhecidas dos participantes, o que evidencia a sua pertinência; os exercícios práticos foram frequentemente impulsionadores de uma compreensão aprofundada sobre a mesma; a estratégia utilizada foi frequentemente motivadora e mobilizadora de novas aprendizagens, o que possibilitou quase sempre a construção de conceitos de desenho a partir das experiências propiciadas pela sequência de exercícios que constitui cada sessão.     


Objetivos
Participantes


A
B
C
D
E
F
G
H
m/o
Promoção da reflexão sobre o Desenho.
5
5
4
5
5
5
4
5
4,7
Abordagem de concepções e práticas do desenho desconhecidas para os participantes.
4
4
3
5
4
5
4
5
4,2
Prática do desenho geradora de uma compreensão aprofunda do mesmo.
5
4
4
3
5
5
4
5
4,3
Estratégia motivadora e promotora de aprendizagens.
5
4
3
4
5
5
5
5
4,5
Construção de conceitos de Desenho a partir das experiência propiciadas.
4
5
5
5
4
5
5
5
4,7
Fig. 1 – Tabela de resultados da avaliação de objetivos pelos participantes. Escala: 1 - Nunca | 2 - Raramente | 3 - Às vezes  | 4 - Frequentemente | 5 - Quase Sempre. M /o: média por objetivo.
           
A análise dos resultados acima referidos, das participações e reflexões realizadas pelos participantes oralmente, no decorrer das sessões, e por escrito, no final da unidade didática – a que corresponde a segunda parte da ficha de avaliação –, permite-nos concluir que, apesar da heterogeneidade dos participantes, relativamente às idades, níveis e áreas de estudo (verificada mais intensamente na primeira sessão), o objetivo de alargar e enriquecer os conceitos sobre o que pode ser o desenho e sobre a arte em geral, através da prática artística e da reflexão, foi conseguido de forma muito satisfatória. O sucesso da unidade e o empenho e entusiasmo manifesto pelos participantes ao longo das sessões, não desmobilizado por um eventual “elevado” grau de exigência e complexidade dos conceitos abordados, parece-nos ser um indicador da necessidade e pertinência deste tipo de abordagens principalmente no contexto da educação artística, mas também no contexto de ações de sensibilização e formação de públicos, enquanto “leitores” artísticos.

Consideramos que, no contexto específico do ensino secundário, os alunos do curso de Artes Visuais beneficiariam com um ensino em que se incluísse este tipo de abordagem ao desenho, particularmente, e também às artes em geral, adicionando-se assim conteúdos e práticas que iriam preencher uma lacuna que nos parece inadmissível, mas que, infelizmente, existe de forma generalizada nas práticas dos professores. É necessário alargar os horizontes dos jovens e levá-los a olhar mais longe, é necessário colocar em questão métodos de ensino desadequados ao nível de desenvolvimento das ideias e da investigação acerca do ensino artístico a que podemos ter acesso hoje em dia.

Este workshop pode contribuir para um conhecimento e compreensão transversal das artes visuais, com diferentes níveis de profundidade, no sentido em que são explorados diferentes processos e suas implicações e não, especificamente, correntes artísticas ou práticas de alguns artistas, embora os processos e concepções abordados tenham procedido da sua análise.

Em conclusão, parece-nos fundamental num ensino artístico que se pretende atual e perante a diversidade de concepções e práticas artísticas, que se tem agudizado desde as vanguardas artísticas, com contornos mais individualizados e multiculturais na era dita pós-moderna, o desenvolvimento a nível curricular de abordagens transversais que integrem essa mesma diversidade de uma forma organizada, sistematizada e pedagogicamente eficaz, tendo como objetivo geral expandir as ideias, o pensamento artístico, suas práticas e a compreensão destas, visto que para a arte como para o seu ensino não há modelos ou fórmulas predefinidas a serem seguidas e mantidas através do ensino. Esta percepção e vontade surge da constatação, a partir das nossas experiências pessoais enquanto alunas e professoras, de que o ensino artístico, no seu conteúdo e forma, está ainda obtusamente imbuído de academismos (clássicos ou contemporâneos) que urge desconstruir.        





REFLEXÃO | PESSOAL

Este workshop foi, para mim, a prova de como é possível trabalhar conceitos complexos e refletir sobre eles na prática, com os mais variados tipos de destinatários. Foi, além de uma experiência didática, uma experiência artística criada por artistas-professores, participada por ‘alunos’ que por momentos trabalharam como potenciais artistas.
Como vimos através das imagens, e também das participações e reflexões realizadas pelos participantes oralmente, no decorrer das sessões, e ainda por escrito, no final da unidade didática, os exercícios e a forma como foram concebidos e propostos foram eficazes, no alcançar do que nos tínhamos proposto. A minha perceção do processo e dos resultados é francamente satisfatória, o que reforça a minha vontade de fazer mais e melhor.

O processo de conceção foi bastante trabalhoso, em longas e frutuosas discussões em grupo, na tentativa de definir o mais e o melhor possível os conceitos a trabalhar e de criar os melhores processos para cada exercício, de acordo com os objetivos a que nos propusémos. O que pusémos em prática foi realmente o processo de criação de um trabalho artístico, na criação deste workshop. Tomar decisões sobre o que ‘ensinar’ é tão difícil quanto decidir o que pintar (Pazienza, 1997, p. 45) e, logo na definição das nossas intenções nos deparámos com a dificuldade; a de decidir o que cada um dos elementos do grupo queria e a de decidir o que todos queriam, quais as nossas reais vontades, que pressupostos e propósitos deveríamos seguir, pois selecionar uma grande ideia com relevancia pessoal é um fator-chave na eficácia da grande ideia para o processo artístico. (Walker, 2004, p. 9)

A investigação mais aprofundada acerca do tema e a definição mais clara das intenções acerca do que se queria transmitir, comunicar, enriqueceu e sustentou este processo. Sabemos que não existe uma fórmula ou definição para a qualidade em arte que possa ser transmitida aos alunos, por isso em vez de as procurarmos, focámos mais a ausência de prescrições para a realização de uma de uma obra, neste caso de um desenho. Assim, tratámos de conceber formas de fazer, propostas para exercitar os conceitos que se queriam transmitir, de forma organizada. Tentámos, de acordo com o que Hausman descreve, pôr em prática uma ‘arte de ensinar’, tomando como conteúdos essenciais diferentes aspetos da natureza própria da arte em geral e do desenho em particular, não incentivando o mero envolvimento em atividades manuais, artesanais ou técnicas artísticas. (1967, p. 14)

Provocámos o aprender-fazendo, ao propôr diferentes possíveis processos de criar. Na criação deste projeto, foi importante também pensar em como propôr cada exercício em forma de enunciado, pois, embora quiséssemos estabelecer de forma precisa objetivos, conteúdos e procedimentos, não queríamos revelar todos os propósitos de cada exercício à partida, mas sim que cada um, na prática, concluísse algo autêntico sobre o que estava a ser trabalhado.

Na realização das várias sessões, incentivámos a reflexão-na-ação (Schön, 2000), dando atenção à consciência do fazer, verbalizando e articulando as ideias no decorrer da realização dos exercícios e entre as várias fases, colocando sempre novas questões a cada exercício concretizado. Foi visível e muito satisfatório como, em diferentes níveis, todos se tornaram mais sensíveis às maneiras de fazer desenho e as entenderam, tirando proveito de cada momento de forma descontraída e de mente cada vez mais aberta.

Isto foi possível, percebo agora, porque o trabalho de preparação, constante reajustamento e planeamento pormenorizado dos exercícios (que existiu mesmo entre sessões) foi intenso e pertinente na procura da precisão possível de conseguir, tendo em conta os conteúdos e o tema: as inúmeras possibilidades de fazer desenho. Foi também o fato de conseguirmos transpôr, a partir de pesquisas acerca de diferentes processos dos mais díspares artistas de diferentes épocas, diferentes modos de fazer, já realizados e fundamentados, para exercícios por nós definidos, que garantiu o sucesso desta experiência. Tal como Hausman refere, uma obra de arte é fonte de uma vasta quantidade de informações, é um meio para compreender o contexto em que foi criada, resulta da manipulação de materiais e técnicas específicas e é contemporânea de uma série de outras obras de arte e documentos significativos. (1967, p. 15) Pretendia-se que assim fosse este workshop e, não querendo chamá-lo de obra de arte, pode considerar-se e reforçar-se o seu valor como experiência artística.

Estando nós próprias conscientes da relação íntima entre a arte e o que se ensina, encorajámos esta tomada de consciência por parte dos participantes para que eles próprios, possíveis artistas e efetivos seres criativos, ficassem munidos de um conhecimento mais aprofundado e próprio da arte, munidos de maneiras de fazer arte ligadas a eles próprios, ao mesmo tempo que melhor se conhecem a si mesmos. Um bom ensino artístico introduz esse fluir de ideias e imagens, que ajudam os alunos a descobrir, selecionar, combinar e sintetizar ideias e imagens retiradas desse fluxo. (Hausman, 1967, p. 15)
A satisfação gerada pelo sucesso deste workshop não podia deixar de ser acompanhada da reflexão e discussão, entre os elementos do grupo (eu, Elsa e Teresa), mais uma vez questionando, pondo agora o workshop Em Questão. De todo o processo que culmina nessa mesma reflexão, concluo que, com qualidade, nada se faz sem trabalho e dedicação e, também, sem objetivos ambiciosos, que, no fundo, a nada mais correspondem que a uma vontade de fazer o que idealmente e efetivamente deveria ser feito.

Quero, na minha prática profissional, como professora ou como artista (ou artista-professora), ser capaz de continuar a prosseguir com um trabalho que aspire a qualidade de uma obra artística, válida, fundamentada e que realmente tenha um efeito significativo para com quem o partilhar.



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