Apesar de não ter participado em nenhum workshop dos realizados por colegas/professores, por estar sempre, ao mesmo tempo, a desenvolver eu própria outros trabalhos, penso que apartir das apresentações, relatos e reflexões apresentados pelos colegas é possível fazer uma reflexão acerca deste 'outro' workshop.
Irei apresentá-lo, descrevendo os seus objetivos e as atividades realizadas, fazendo depois uma reflexão acerca do que me parece ter sido trabalhado alcançado na sua concepção e realização, e enquadrando-o nas correntes definidas por Efland.
OBJETIVOS GERAIS
Irei apresentá-lo, descrevendo os seus objetivos e as atividades realizadas, fazendo depois uma reflexão acerca do que me parece ter sido trabalhado alcançado na sua concepção e realização, e enquadrando-o nas correntes definidas por Efland.
WORKSHOP | Ilustração e 5 sentidos
OBJETIVOS GERAIS
•
Explorar e integrar as emoções e os sentimentos no
processo criativo.
• Promover de forma experimental a capacidade
expressiva e narrativa do desenho, através do registo de uma ilustração
sensorial comum ao grupo
de participantes.
de participantes.
•
Enriquecer a linguagem gráfico/plástica.
•
Inovar no recurso a materiais.
•
Desenvolver o dinamismo emocional.
OBJETIVOS ESPECÍFICOS
• Valorizar
a intuição, liberdade criativa e a imaginação com vista ao desenvolvimento
formal e estético.
• Suscitar
a curiosidade pela descoberta, poesia, arte e música, tornando-as participantes
nessa descoberta.
• Integrar
novas ferramentas/formas de pesquisa no âmbito do desenho de ilustração.
• Desenvolver
a capacidade interpretativa, salientando a ideia de coerência e unidade do
projeto e realçando a interpretação da relação entre a emoção, representação
livre e o enquadramento do projeto de desenho.
• Reforçar
a noção de contributo dos materiais, experimentação e representação e desafiar os paradigmas normativos dos
participantes sob a forma de articulação dos sentidos.
• Registar
graficamente emoções e sentimentos explorando os sentidos e apurando os
restantes, pela não utilização da visão.
• Promover
a partilha, cooperação e troca de trabalhos.
• Reconstruir
a narrativa gráfica do outro.
[Condições de realização]
• Proporcionar-se-á
um ambiente dinâmico de constante mudança, surpresa e com alguma componente de
mistério na sala de aula habitual.
• Irão
ser utilizados meios variados, tais como, materiais riscadores, suporte
papel de variadas dimensões, som áudio,
materiais de diversas texturas, cheiros e paladares.
AVALIAÇÃO
Pretende-se que o participante realize uma auto avaliação,
refletindo sobre as seguintes questões:
– Considera que a metodologia utilizada neste
workshop, permite desenvolver as capacidades de raciocínio, motivação e
desempenho dos alunos?
– A partilha e troca de trabalhos revelaram-se
indutoras ou limitadoras da criatividade?
– Que evolução sentiu relativamente ao início do
processo criativo e ao projeto final
obtido?
ATIVIDADES
[SESSÃO 1]
• Registo
gráfico de uma ilustração, com os olhos vendados, explorando os restantes
sentidos e relacionando emoções e sentimentos com a ambiência envolvente.
• Construção
de uma narrativa descritiva de suporte ao desenho realizado.
• Troca
das narrativas realizadas pelos participantes e “reconstrução” dessa mesma narrativa gráfica pelo outro.
• Construção
de uma narrativa descritiva de análise da ilustração desenvolvida por outro
participante.
• Debate
e discussão crítica do significado da narrativa visual, quer por parte de quem
ilustrou primeiramente, quer por parte de quem completou /“reconstruiu” a
narrativa original.
desenho 1



desenho 2


ilustração final
[SESSÃO 2]
• Construção
de uma narrativa de grupo, utilizando as
narrativas escritas e visuais realizadas na sessão anterior.
• Debate
e reflexão crítica sobre o trabalho desenvolvido com base nos conceitos
“professor-artista” e “artista-professor”.
REFLEXÃO | PESSOAL
Considero
os conteúdos trabalhados neste wokshop, e principalmente o tipo de experiências
propostas, pertinentes num contexto de ensino como o do secundário, pois, embora
aqui fossem destinados a professores, têm um grande potencial de enriquecimento
na forma de retirar impressões da realidade para as transformar em matéria para
trabalhos artísticos, o que é de especial importância para o ensino artístico.
A
representação do que não é visível, mas sim audível, sensível ao tato, olfato e
sabor, é um exercício que pode ser bastante libertador e abrir caminhos
bastante frutuosos, no sentido de nos desprendermos de uma linguagem plástica
que se baseia apenas no que se vê, e que acaba por ser facilmente influenciada
por preconceitos. Temos tendência a representar o que vemos, em imagens, mas o
fato de produzirmos imagens visíveis não tem que implicar a representação de
algo visível. O que se trabalha no ensino artístico deve ser muito mais do que
a capacidade de representar. Por isso, penso que foi feliz a decisão de começar
por ‘alargar horizontes’ desta forma, de tentar abordar a ilustração de uma
outra forma, não forçosamente figurativa, começando por um exercício que
convoca experiências sensoriais para gerar imagens.
Extas
experiências poderiam abrir caminho para a exploração mais aprofundada de como
cada sentido pode contribuir como estímulo percetual para a construção de
imagens, ao nível formal e simbólico, ao nível do uso de materiais específicos
para cada sensação, de tipos de registo diferentes para cada perceção,
constituindo-se assim inúmeras possibilidades de abordagem ao que é próprio da
experimentação artística e da criação de obras de arte.
Trabalhou-se
aqui, embora de forma leve e descontraída, muitos elementos da linguagem plástica
e também pensamentos acerca do fazer artístico, que foram de certa forma
abordados nos diálogos e reflexões em conjunto realizadas nas sessões. Ainda
assim, penso que seri pertinete, num contexto de ensino, levar mais longe essas
reflexões, para que os alunos as aproveitassem de forma mais construtiva e integrada,
e não tão pessoal.
Nitidamente,
foi um dos objetivos específicos deste workshop “valorizar a intuição,
liberdade criativa e a imaginação com vista ao desenvolvimento formal e estético”;
penso que foi conseguido, principalmente numa vertente mais pessoal, de forma
direcionada para o desenvolvimento da imaginação de cada um, em diferentes níveis.
Outro
dos objetivos era “promover a partilha, cooperação e troca de trabalhos”, o que
foi conseguido através da troca de desenhos e sua conclusão por outros alunos(/professores),
fazendo-se assim desenhos ou ilustrações em grupo, em fases distintas, sem que
inicialmente se soubesse que isso iria acontecer. A experiência da apropiação, de
cada um pegar no trabalho de outro e torná-lo seu através da sua própria
intervenção, faz com que se perceba que assim, através do ‘diálogo’, se podem tornar
as coisas mais ricas, mais impregnadas de sentido. Penso que reforça também a
relatividade da importância da ação inicial do sujeito, e a perceção de que o
que fazemos se pode e deve transformar, pois as primeiras experiências não têm
que ser um fim; podem desconstruir-se e voltar a fazer parte de um todo mais
organizado e com mais sentido, com um maior valor artístico. Esta seria também
uma boa proposta para os nossos alunos, de forma a perceberem a importância destas
ideias na prática, de forma integrarem e aceitarem que o outro pode
acrescentar-nos, pode dar mais valor ao nosso processo de construção de algo,
com valor acrescentado. Coloca-se também em causa a autoria do desenho, o que é
curioso observar por ter sido trabalhado no nosso worksho, o Desenho, em Questão.
O
fato de, na segunda sessão, se ter abordado o conceito de artista-professor e
de professor-artista, relacionando-o com o workshop em si, penso que foi
importante sobretudo para que os participantes, como professores, percebessem
na prática a preponderância de se ter consciência dos seus próprios
conhecimentos sobre arte e de conhecer através da experiência, para que se
possa provocar o desenvolvimento artístico dos alunos. Não podendo estar
presente, ignoro até que ponto estas questões foram desenvolvidas, mas penso
que constituem um propósito muito importante.
A
abordagem do grupo que concebeu e realizou este workshop enquadra-se, de forma
para mim evidente, no modelo Expressivo-Psicoanalitico defino por Efland;
modelo que dá previlégio a uma estética expressionista da arte, entendida como
produto da imaginação do artista. O grupo pôs em prática uma pedagogia que se
centra no indivíduo, no papel da imaginação na aprendizagem, no conhecimento
como construção individual (neste caso articulado com experiências coletivas
mas partindo das emoções e dos sentimentos de cada um). Isso é expresso nos
próprios objetivos difinidos para o workshop, na forma como os exercícios são
propostos e na metodologia posta em prática, tendo em conta que se tentou provocar,
através do próprio ambiente, a introspeção, a criação a partir dessa
introspeção e ainda a formulação de novas construções, entendimentos e perspectivas, entendidos como processos
mentais para os quais foram determinantes as emoções e sentimentos. Segundo
este modelo, a arte possibilita o desenvolvimento pessoal e o avanço cultural,
a aprendizagem é entendida como um processo de integração pessoal. (Efland,
1995) A libertação pessoal, o desenvolvimento do dinamismo emocional, a procura
de expressões pessoais, mesmo na sua articulação com as expressões dos outros
indivíduos, são também aspirações deste workshop que se coadumam com o modelo “expressionista”.
Pessoalmente,
sei que a temática abordada neste workshop seria por mim abordada de outra
forma, pois já o fiz em contexto letivo. Curiosamente, através dos cinco
sentidos propus aos alunos que se auto representassem, que procurassem
transformar aspetos da sua individualidade em trabalhos plásticos, mas fi-lo
segundo uma outra abordadgem, que além do modelo esxpressivo-psicoanalítico
incluía outros modelos que penso não estarem presentes neste trabalho de forma
estrutural.
É
curioso como ao analisarmos o trabalho dos outros nos definimos melhor a nós
próprios, neste caso como professores, ou como artistas-professores...
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