sexta-feira, 13 de abril de 2012

O primeiro trabalho.... OLÁ FÉLIX!!

Esta foi a carta que escrevi a um professor... com o passar do tempo apercebo-me de como tudo é sempre tão pessoal e emocional... que lamechas!! e isto ainda vai 'piorar'!!
bom, para quem me conhece é bastante normal. para quem não me conhece tão bem: pronto, aqui estou eu, exposta, sem possibilidade de retorno.

AQUI VAI ELA:

Olá Félix!
Será que ainda te lembras de mim? Sou a Elisa, que andava sempre com a Joana…!
Bem sei que entretanto os alunos e as alunas foram muitos, naquela vez em que nos encontrámos, era eu assistente de exposição no Museu Berardo, sei que não chegaste a entender quem eu era ao certo. Confesso que fiquei um pouco desconcertada, porque tu, a quem trato por tu e foste (és ainda) uma referência para mim, não me identificaste como sendo eu própria. (Talvez tenha sido pela descaracterização que uma espécie de uniforme proporciona…) Fiquei a imaginar se, nos minutos a seguir ao nosso encontro imediato, me terias associado à quantidade de nomes que referi para dizer como estávamos todos passados uns anos!
Bom, de qualquer forma, o que me motiva a escrever esta carta é o seguinte: estou agora a querer ser professora, professora de Artes Visuais. A Pintura não chega, não me chega para me fiar nela para pagar as contas nem me preenche a vontade de dar a outros umas luzes, para que as usem para eles próprios brilharem e se aproximarem deste mundo das artes plásticas como eu me aproximei, nas nossas aulas de Oficina de Artes no 10º ano, na Escola Secundária de Mem Martins.
Passávamos muito tempo juntos, eram as aulas de 3 horas mais os tempos no laboratório de fotografia. Sabias que eu e a Joana, para mantermos o laboratório a funcionar (e para nós próprias continuarmos a usufruir dele) nos tornámos monitoras do Núcleo de Fotografia? Tivémos 3 alunos! Claro que para isso contámos com o “apoio institucional” da prof. Isabel Bacalhau…
Mas voltando ao propósito desta carta, estou agora no primeiro ano do Mestrado em Ensino de Artes Visuais e, na disciplina de Didáctica das Artes Plásticas, as professora Ana Sousa propôs-nos que escrevêssemos uma carta a um professor que nos tenha marcado. E eu não tive muitas dúvidas: escolhi-te a ti.
À parte da proximidade que conseguiste criar entre nós, alunos, e tu próprio, que na altura foi surpreendente e aliciante, sempre admirei o modo como, naturalmente, demonstraste ser um professor exigente e eficiente, coerente e criterioso, mesmo na avaliação dos trabalhos. As apreciações dos nossos trabalhos, bem como das nossas atitudes, eram isentas mas intencionais, eram credíveis e nunca exageradas. Aprendemos muito a partir da tua postura e da tua atitude: não valorizavas o espectacular e o bonito, mas sim o interessante. Havia aquilo que tinha mais interesse, o que tinha menos interesse; o que nos fazia merecer um beijinho na bochecha direita ou na bochecha esquerda era a resposta ao exercício que ia, claramente para além das tuas expectativas. E ainda havia os momentos em que te distanciavas e nos deixavas uma pouco “à nora” e depois te aproximavas e dizias: “eu ainda não falei contigo porque já percebi que tens uma certa facilidade”. E todas essas apreciações eram merecedoras de alto respeito e satisfação por nós.
Embora só me tenha apercebido disso mais tarde, em comparação com o trabalho de outros professores, foi notável como transformaste o programa, adaptando-o a propostas que implicavam, não só a aprendizagem do desenho à vista, da composição e do uso de diferentes materiais a exercícios que implicavam uma metodologia de projecto em que tínhamos espaço para descobrir e dar algo mais de nós próprios. (Deixa-me ainda referir como aquele trabalho acerca do Tàpies definiu para sempre o que tenho vindo a desenvolver na pintura…!)
Nos dois últimos anos lectivos, enquanto dei aulas de desenho, lembrei-me muitas vezes de ti durante as aulas enquanto pensava: “será que esta aluna está neste momento a sentir aquilo que nós sentíamos em relação ao Félix?”. E, claro, usei uma ou outra ideia do meu 10º ano para os trabalhos que eu própria propus. Pode ser?
Não quero alongar-me mais nem perder-me em mais pormenores, apenas quero agradecer-te e espero que esta carta te sirva de motivação, para que continues a ser um bom professor (a meu ver) e dizer-te que espero que mantenhas algo daquela frescura que tinhas na altura. Muitos de nós, como eu, a Joana, o João, a Catarina, a Susana, a Joana Rute, continuamos, quando estamos juntos a lembrar-nos de ti e das nossas aulas, ou daquela viajem a Miranda do Douro em que pensámos que o Armando tinha desaparecido!
Obrigada por teres sido companheiro e professor, autêntico e sem falsos romantismos ou ilusões de amizades impossíveis de manter, um bom professor, que fez o seu trabalho sinceramente e que não esquecemos.


Um beijinho na bochecha esquerda, e tudo de bom!

Elisa Paulino


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